sábado, 27 de dezembro de 2014

Tudo Novo

                                                              Tudo Novo




  Um ano novo sempre vem recheado de promessas de mudanças de todo tipo. Seja uma dieta para começar assim que as férias acabarem (e que desaparecerá misteriosamente todo domingo), ou um “pegar firme na academia” – partes de um mesmo projeto envolvendo sempre o próximo verão. Fazer mais amigos, gastar menos com bobagens. Finalmente investir naquela tão sonhada viagem, ou naquele cursinho que esteve sempre nos planos, mas que nunca se concretizava.
  A verdade é que estamos todos acostumados a achar que novos hábitos só podem começar em começos. Começo de ano, de mês, de semana, ou até de dia. Como se fosse inconcebível começar a se alimentar bem na quinta-feira, ou um crime começar a fazer exercícios no meio do mês de março.
  Mas existe um segredo universal, desconhecido pela grande maioria das pessoas, principalmente das especialistas em promessas. É o seguinte: quem quer mesmo mudar, começa agora!
  É isso mesmo. Agora. Hoje. Nesse instante. Ou o quanto antes, dependendo do que você pretende.
  Quem quer mudar não promete, faz! E faz assim que a primeira oportunidade aparece.
  Esperar o momento mais adequado pode demorar mais tempo do que você imagina. E a cada dia que passa, aquela empolgação vai diminuindo, pouco a pouco, até se transformar na promessa do ano seguinte.
  Que tal, com o devido planejamento que cada projeto requer, encarar o seu desejo de frente? Transformar aquela sua promessa em  realidade, e se jogar nela?
  Que tal começar aquela dieta na sua próxima refeição (e não enfiar a perna inteira na jaca no próximo domingo)? Ou começar aquela tão adiada caminhada, amanhã mesmo?
  Comece a dar o seu melhor hoje. E depois de começar, com determinação, a vontade de realizar seu sonho, ou de concretizar seus tão planejados projetos, só vai aumentar a cada dia.
  Falar é muito mais fácil do que fazer, não é segredo pra ninguém. Mas dar o primeiro passo não é nenhum bicho de sete cabeças. Se mantiver seus planos muito longe das suas mãos, sem conseguir torná-los palpáveis, mais fora da realidade elas vão parecer estar, e mais difícil será de deixar de falar e começar a fazer.
   Não desanime se suas primeiras tentativas não derem certo. Refaça seus planos, se necessário. Mexa-se. E planeje mais. Não deixe de tentar, e tentar de novo. A vida vai te oferecer inúmeras oportunidades de se realizar com o que mais gosta. Mas o primeiro passo é você quem dá. E aí, vamos começar?


                                                                                                                                                                 

*MaRi Rezk*


segunda-feira, 28 de julho de 2014

Medo

                                                              

                                                                     Medo






   Tem gente que tem medo de lugares fechados e apertados. Sentem-se sufocadas, encurraladas. Não eu. Tenho medo de espaços abertos demais. Me assusta o excesso de liberdade, não saber onde começa e onde termina, perder-me no meio de uma decisão grande demais. Ter mais opções do que as que cabem nas minhas duas mãos juntas me adoece.
   O muito me assusta. Sentir o peso de muitas escolhas a fazer. Ter muitos assuntos piscando na cabeça, pedindo para serem pensados. Ter muito a resolver, sem tempo para certezas. Um filme muito longo.
   Tenho medo de nunca conseguir uma certeza. De sempre balançar. De sempre pensar em “como seria se...”.
   Me apavora tudo que tenha a remota possibilidade de explodir: coisas, lugares ou pessoas.
   Tenho medo de nunca me perder, de sempre estar em um lugar seguro demais, de não aprender uma lição depois de tropeçar. Tenho medo da monotonia, da certeza, da tranquilidade que nunca dá um tempo.
   Tenho medo de, ou estar sempre certa, ou sempre errada. Quero equilíbrio, provar o sabor de cada um. Medo de que o próprio medo supere minhas vontades, de pensar demais e fazer de menos. Temo não ter forças para arriscar, quando sinto  que é o que mais quero. Medo de perder antes de ganhar. Ou nunca chegar a ter.
   O escuro me assusta com facilidade. Principalmente aquele escuro que fica dentro da nossa cabeça. Gosto de enxergar onde estou pisando, de saber pra onde estou indo, se estou no caminho que pretendia tomar, ou se já estou perto de onde queria estar.
    Temo pessoas influentes demais, principalmente por estar longe de ser uma delas. Tenho medo de ser arrastada por correntezas de pensamentos vazios. Tenho medo de soltar a mão da razão e andar segurando a emoção com as duas mãos. Quero andar de mãos dadas com ambas, sem deixar nenhuma para trás.
    Tenho medo apenas dos erros que eu não consiga consertar. E os arrependimentos são, para mim, os medos mais difíceis com que se pode conviver.



                                                                            *MaRi Rezk*


segunda-feira, 2 de junho de 2014

Todos Os Agoras

                                                    Todos Os Agoras




  Acho é que o tempo é que gasta a gente. É cruel com alguns, e extremamente generoso com outros. Ensina a valorizar apenas o que já não mais se pode ter. Quanto mais se quer fugir, mais lento ele se faz. Quanto mais se precisa dele, mais ele corre.
  Volta e meia vem nos cutucar. Basta uma imagem, uma palavra, um aroma, e o tempo que já passou cai todo em cima da nossa cabeça, com o peso de tantos anos, em forma de lembrança. E se forem lembranças boas, faz pior. Ele transborda, escorre pelos olhos, e arranca um “que saudade...” lá do fundo do coração até a boca.
  O passado costuma nos marcar antes de nos deixar seguir em frente. Faz nos apegarmos a momentos que nunca mais teremos, pessoas que jamais estarão por perto outra vez, instantes de felicidade que não se repetirão.
  O tempo, conforme passa, vai partindo nosso coração, e deixando as migalhas para trás. Fez comigo sem que eu deixasse, e não devolveu nenhum pedacinho. De vez em quando o passado aparece sem ser convidado, se instala, toma lugar de preocupações de amanhã, faz doer o coração até explodir, e daí desaparece por um tempo, até que outra imagem, outra palavra, outro aroma, o faça aparecer de novo. A pior parte é quando ele volta em outra forma, pra que você veja que não pode refazê-lo, não do jeito que era antes. Aquelas boas lembranças que matam a gente quando voltam à superfície!
  O tempo nem sempre nos maltrata. Ele nos dá de presente o agora. O exato momento para se escrever cada traço de história que tivermos para contar. O agora é quando a vida acontece, o intervalo entre os planos e as memórias. É por ele que esperamos, e é dele que sentimos falta.
  Mas não podemos desperdiçá-lo.  Num instante ele vira passado. Pode acontecer de apenas nos encontrarmos nele, sem nos lembrar do caminho que foi percorrido até o momento. Quando isso acontece, fica difícil de nos mover, de agir. Não deixa de ser presente, mas um presente que fica estacionado, entre um passado no qual desperdiçamos horas pensando em qual foi o momento em que algo diferente deveria ter acontecido, e um futuro que nos assusta dia a dia, que sufoca as esperanças e só faz dar medo.
  O presente foi feito pra construir tudo o que um dia seremos, como o que um dia deixamos de ser. Nele foram feitas cada escolha, boas ou ruins, e nele faremos ainda muito mais. Vivemos esperando os futuros “agoras”, aqueles que um dia virarão uma boa lembrança, e até aqueles que se tornarão arrependimento, mas que irão nos ensinar e nos moldar.
  O futuro costuma mais prometer do que cumprir. Ele dá esperança e faz sonhar, e, simultaneamente, nos aterroriza e confunde. E não se pode evitar o confronto, um dia ele vai chegar em forma de agora, cumprindo promessas, decepcionando, e ,principalmente, surpreendendo. Você pode  estar vivendo o seu futuro agora. E o seu agora pode ser só passado quando você acordar amanhã. O mundo não pára de girar para o acompanharmos. Nós é que temos que correr atrás dele. E sempre tomando cuidado pra não tropeçar no meio do caminho. Você pode se levantar, mas seu joelho ainda vai estar ralado. Você pode consertar cada erro cometido, mas sempre existirão as consequências. Concentre-se no seu agora. Em cada agora.



*MaRi Rezk*


quinta-feira, 27 de março de 2014

Arrependimentos

                                                           Arrependimentos




  Quando viajo longas distâncias de carro, olhar a paisagem passando rápido na estrada é o que melhor me distrai. Ainda que a paisagem não seja muito bonita, gosto da sensação de ver aquela imagem passando depressa, como se, ao invés de eu estar correndo pra frente, o mundo estivesse correndo pra trás. Sinto uma inexplicável sensação de paz. É um excelente momento para refletir nas experiências mais marcantes que vivemos, ou nos maiores planos para o futuro. É como se pudesse entrar numa máquina do tempo, voltando ao passado para consertar os erros, e conhecendo o futuro o suficiente para fazer as melhores escolhas.
  Para mim, a ideia de voltar no tempo é mais tentadora. Não apenas pelas grandes más escolhas que mereceriam ser refeitas, mas também pelos pequenos erros que influenciaram grandes acontecimentos, e que martelam na nossa cabeça de vez em quando. Além disso, consertar um erro é infinitamente mais difícil do que não cometê-lo.
  Arrependimentos têm duas faces. Uma delas, de ter feito algo de que não se orgulha. Outra, de não ter feito algo que poderia ter valido a pena. Quem diz não sentir por qualquer uma dessas, não está sendo sincero. Ainda que seja algo bobo, aparentemente sem importância, mas que, depois de chegarmos no futuro, vimos que poderia ter feito a diferença.
  Uma palavra lançada como uma flecha, no calor do momento. Uma mensagem, do tipo que causa arrependimento instantâneo. Ou ainda uma mensagem que não foi enviada no meio da noite, por medo de incomodar. Um abraço não dado, um tapa mal dado, umas verdades não ditas. Uma briga desnecessária. Uma explosão de gritos que poderia ter sido evitada. Uma amizade desfeita. Um laço cortado ao meio. Uma atenção que não foi dada no momento certo, ou uma dada à pessoa errada. Tempo desperdiçado, quando poderia ter sido dedicado ao que é mais importante. São coisas das quais nos lembramos por um bom tempo, e que poderiam nos colocar em outras direções, tornando a nossa vida diferente de como a conhecemos agora.
   E como não querer desesperadamente voltar no tempo para consertar erros bobos, como aqueles irreparáveis erros cometidos no cabelo ou sobrancelha, que nos fazem chorar por dias, e querer andar por aí com um saco de pão na cabeça?! Aquele chocolate tirado do esconderijo secreto, e degustado antes de dormir, e que não sai do seu corpo nunca mais. Aquele terceiro e desnecessário pedaço de pizza. Aquele risco de delineador que já estava bom antes de estragarmos tentando inovar. A estúpida ideia de querer dançar em público, quando você sabe que não é capaz. Uma risada maldosa na hora errada, impossível de conter. Ou quando perdemos uma ótima oportunidade de ficar calados.
  Sempre haverão erros para se lamentar. Talvez não necessariamente um erro, mas podemos sentir um forte desejo de ter feito mais, de ter sido melhores no que quer que não tenhamos sido.  De ter demorado tanto pra descobrir a forma certa de ser/fazer/pensar, talvez não necessariamente a forma certa pro mundo, mas a forma certa pra nós.
  Mas lamentar é cansativo, e improdutivo. Nossa vida passa tão rápido, e quando nos damos conta, tudo aconteceu num picar de olhos. Gastar tempo pensando e pensando em como poderia ter sido, ao invés de investir no que ainda pode ser, é um grande desperdício de vida. Lembrar das bobagens que fizemos pode ser doloroso, ou às vezes até mesmo engraçado. Algumas coisas poderemos consertar, sim, mas nunca poderemos voltar no tempo, apagar a más lembranças. Mas podemos aprender com elas, superar, seguir em frente, fazer melhor. E de vez em quando podemos nos deixar atormentar um pouquinho por elas, não deixando que suas dolorosas lições sejam esquecidas. Faz parte de se viver.




*MaRi Rezk*



sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Em espera...

                                                     Em espera...




  Sobre o futuro: nunca soube o que fazer com ele. Sempre o temi. Sempre me surpreendeu. E volta e meia ele me engana.
  Em algum momento olhei pra frente, e pensei ter visto um horizonte cheio de um futuro que eu queria sem saber. Mas tudo o que encontrei foi um presente que eu já tinha, e que parecia nunca acabar.
  Nunca desejei mais do que o suficiente. O suficiente para agradar os olhos, o coração. Um “suficiente” além de qualquer capacidade. Longe demais das minhas mãos e pés. Mas nunca esperei por tais desejos.
  Percebi ao longo do tempo que sonhar é trabalhoso, requer esforço. Eles, os tais sonhos, não se desenrolam sozinhos. Eles precisam de alguém para rolá-los vida abaixo.
  Sempre pensei que a direção certa apenas surgiria, e viraria meus pés para um horizonte que já era meu. Mas só depois de muito me perder, foi que percebi que eu era a única responsável por me encontrar.
  E com as pontas dos dedos fui desenhando um caminho que só meus pés enxergavam. Do início dele já posso enxergar o fim. Tenho desviado ao máximo para que o final permaneça distante. Mas, quando não houver mais curva a se fazer, basta lembrar-se que o final de uma estrada é sempre o início de outra. E é válido trilhar o mesmo caminho mais de uma vez, aprender com os erros, cuja única serventia é nos ensinar. Aprender com eles é parte de tornar-se adulto.
  E o futuro, esse continua lá, pronto pra ser desenhado...


*MaRi Rezk*


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Dor

                                                                     Dor




 Que nota você daria para a sua dor numa escala de um a dez?
  Ela vem sem pedir licença. Toma posse das suas emoções. Cutuca seu cérebro, causando enxaquecas das mais insuportáveis. Aperta seu coração com as duas mãos, até trincar. Faz escorrer pelos olhos cada problema cuja solução não temos o poder de alcançar. Comprime os pulmões, como que envolvidos num abraço sufocante de um inimigo cruel. E coloca um peso, equivalente ao de um caminhão carregado de mágoa, nos seus ombros. Faz um buraco no peito. Desespera. Mexe com a sua cabeça. Tira o sono.
  Não é uma dor literal, como aquela resultante de um corte ou uma pancada. Ela vem de dentro pra fora. Não como enfermidade, ainda que, se não tratada, pode vir a causar uma. Pode ser resultado de um coração partido, de uma palavra dura, da insensibilidade de quem esperávamos o contrário, de uma perda, ou das diversas formas de decepção pelas quais poderíamos passar. Arrependimento. Injustiça. Ou pode ser a soma de um pouquinho de cada um desses fatores. Ou pode simplesmente não ter motivo algum para ser.
  Cada um sabe de sua dor. Apenas a própria pessoa tem ideia do quanto sofre, isso porque, como insisto em dizer, cada pessoa sente de forma diferente. Cada um sabe quanto peso consegue carregar sem desabar. E ninguém que tente entender, conseguirá. Porque somente nós mesmos sabemos o exato momento em que a alegria escorre entre os nossos dedos, o mesmo momento em que a dor nasce no peito, e cresce, e cresce.
  E cada um tem o direito de reagir a ela à sua própria maneira. Alguns preferem guardá-la num buraco escuro no fundo do peito, e compartilhá-la apenas consigo mesmo, em momentos de solidão. Há quem prefira descabelar-se aos quatro ventos, sem medo ou vergonha. Outros, a meu ver os mais infelizes, simplesmente não conseguem, ainda que com muito esforço, deixá-la guardada, e explodem, seja em lágrimas, desespero estampado nos gestos, ou em grosserias lançadas a quem quer que esteja por perto. E, por último, aqueles que fingem que ela não está lá, latejando.
  Particularmente, admiro quem luta contra a sua dor. Ainda que a sua força seja pequena, e ainda que a dor acabe por vencer, brigam com ela até onde podem suportar. Deixá-la dominar sua vida sem reagir é mais cômodo, com certeza. Mas também, é o caminho mais rápido ao fundo do poço. Há quem contribua construindo em volta de si o seu próprio poço, não deixando que qualquer pessoa o console, e deixando que seus problemas dominem seus pensamentos e suas conversas.
  Posso não ser especialista no assunto, e de fato não sou, mas já senti dor. E também já briguei com ela. E não costumo entrar numa briga para perder. Talvez a maior lição que eu tenha aprendido a respeito desse assunto é que brigadeiro nem sempre é a solução. Existem outras maneiras de vencê-la, e, ao mesmo tempo, sem engordar.
  Parar de falar no assunto é uma delas. Se ele está presente em cada conversa sua, quer dizer que está longe de parar de doer. É claro que uma boa conversa com um amigo achegado alivia, e muito. Mas será que todas as pessoas com quem você conversa estão cientes de cada aspecto do seu problema? No meu caso, quando me chateio muito com algo, eu reclamo por um tempo. Mas, passados alguns minutos (ou ás veze muitos minutos, dependendo da situação), eu evito pensar no assunto. Assisto a um filme, leio uma revista. Converso sobre coisas completamente diferentes. E, aqui entre nós, ajuda muito. Mas, quando falamos para a pessoa certa sobre o que nos aflige, podemos obter excelentes resultados. Já falou em oração sobre isso? Nesse caso, falar para nosso Deus sobre aquilo que nos entristece, a qualquer momento que sentimos a necessidade de fazê-lo, é com certeza o melhor remédio.
  Quando sentir que esta dor está afetando demais a sua vida, seus relacionamentos,suas ações e palavras, e quando sentir que já está pesada demais para carregar sozinho, não há vergonha nenhuma em procurar ajuda profissional. Vergonha maior é afastar as pessoas que gostam de você por receio de procurar um médico que realmente possa te ajudar.
  Dor é relativa. O que faz um sofrer, pode ser algo fácil de lidar para outro. Não nos cabe julgar. Permita que outros o apoiem. E jamais permita que alguém te puxe mais pra baixo. Seu coração está dentro de você, e não você dentro dele. Com muito esforço e força de vontade, seus sentimentos podem ser controlados somente por você. Algumas dores podem nos deixar de cama, nos derrubar num buraco sem fim, nos tornar pessoas diferentes, e muitas vezes solitárias, nos diminuir até nos tornar invisíveis. Mas só se deixarmos.



*MaRi Rezk*