segunda-feira, 28 de julho de 2014

Medo

                                                              

                                                                     Medo






   Tem gente que tem medo de lugares fechados e apertados. Sentem-se sufocadas, encurraladas. Não eu. Tenho medo de espaços abertos demais. Me assusta o excesso de liberdade, não saber onde começa e onde termina, perder-me no meio de uma decisão grande demais. Ter mais opções do que as que cabem nas minhas duas mãos juntas me adoece.
   O muito me assusta. Sentir o peso de muitas escolhas a fazer. Ter muitos assuntos piscando na cabeça, pedindo para serem pensados. Ter muito a resolver, sem tempo para certezas. Um filme muito longo.
   Tenho medo de nunca conseguir uma certeza. De sempre balançar. De sempre pensar em “como seria se...”.
   Me apavora tudo que tenha a remota possibilidade de explodir: coisas, lugares ou pessoas.
   Tenho medo de nunca me perder, de sempre estar em um lugar seguro demais, de não aprender uma lição depois de tropeçar. Tenho medo da monotonia, da certeza, da tranquilidade que nunca dá um tempo.
   Tenho medo de, ou estar sempre certa, ou sempre errada. Quero equilíbrio, provar o sabor de cada um. Medo de que o próprio medo supere minhas vontades, de pensar demais e fazer de menos. Temo não ter forças para arriscar, quando sinto  que é o que mais quero. Medo de perder antes de ganhar. Ou nunca chegar a ter.
   O escuro me assusta com facilidade. Principalmente aquele escuro que fica dentro da nossa cabeça. Gosto de enxergar onde estou pisando, de saber pra onde estou indo, se estou no caminho que pretendia tomar, ou se já estou perto de onde queria estar.
    Temo pessoas influentes demais, principalmente por estar longe de ser uma delas. Tenho medo de ser arrastada por correntezas de pensamentos vazios. Tenho medo de soltar a mão da razão e andar segurando a emoção com as duas mãos. Quero andar de mãos dadas com ambas, sem deixar nenhuma para trás.
    Tenho medo apenas dos erros que eu não consiga consertar. E os arrependimentos são, para mim, os medos mais difíceis com que se pode conviver.



                                                                            *MaRi Rezk*