segunda-feira, 2 de junho de 2014

Todos Os Agoras

                                                    Todos Os Agoras




  Acho é que o tempo é que gasta a gente. É cruel com alguns, e extremamente generoso com outros. Ensina a valorizar apenas o que já não mais se pode ter. Quanto mais se quer fugir, mais lento ele se faz. Quanto mais se precisa dele, mais ele corre.
  Volta e meia vem nos cutucar. Basta uma imagem, uma palavra, um aroma, e o tempo que já passou cai todo em cima da nossa cabeça, com o peso de tantos anos, em forma de lembrança. E se forem lembranças boas, faz pior. Ele transborda, escorre pelos olhos, e arranca um “que saudade...” lá do fundo do coração até a boca.
  O passado costuma nos marcar antes de nos deixar seguir em frente. Faz nos apegarmos a momentos que nunca mais teremos, pessoas que jamais estarão por perto outra vez, instantes de felicidade que não se repetirão.
  O tempo, conforme passa, vai partindo nosso coração, e deixando as migalhas para trás. Fez comigo sem que eu deixasse, e não devolveu nenhum pedacinho. De vez em quando o passado aparece sem ser convidado, se instala, toma lugar de preocupações de amanhã, faz doer o coração até explodir, e daí desaparece por um tempo, até que outra imagem, outra palavra, outro aroma, o faça aparecer de novo. A pior parte é quando ele volta em outra forma, pra que você veja que não pode refazê-lo, não do jeito que era antes. Aquelas boas lembranças que matam a gente quando voltam à superfície!
  O tempo nem sempre nos maltrata. Ele nos dá de presente o agora. O exato momento para se escrever cada traço de história que tivermos para contar. O agora é quando a vida acontece, o intervalo entre os planos e as memórias. É por ele que esperamos, e é dele que sentimos falta.
  Mas não podemos desperdiçá-lo.  Num instante ele vira passado. Pode acontecer de apenas nos encontrarmos nele, sem nos lembrar do caminho que foi percorrido até o momento. Quando isso acontece, fica difícil de nos mover, de agir. Não deixa de ser presente, mas um presente que fica estacionado, entre um passado no qual desperdiçamos horas pensando em qual foi o momento em que algo diferente deveria ter acontecido, e um futuro que nos assusta dia a dia, que sufoca as esperanças e só faz dar medo.
  O presente foi feito pra construir tudo o que um dia seremos, como o que um dia deixamos de ser. Nele foram feitas cada escolha, boas ou ruins, e nele faremos ainda muito mais. Vivemos esperando os futuros “agoras”, aqueles que um dia virarão uma boa lembrança, e até aqueles que se tornarão arrependimento, mas que irão nos ensinar e nos moldar.
  O futuro costuma mais prometer do que cumprir. Ele dá esperança e faz sonhar, e, simultaneamente, nos aterroriza e confunde. E não se pode evitar o confronto, um dia ele vai chegar em forma de agora, cumprindo promessas, decepcionando, e ,principalmente, surpreendendo. Você pode  estar vivendo o seu futuro agora. E o seu agora pode ser só passado quando você acordar amanhã. O mundo não pára de girar para o acompanharmos. Nós é que temos que correr atrás dele. E sempre tomando cuidado pra não tropeçar no meio do caminho. Você pode se levantar, mas seu joelho ainda vai estar ralado. Você pode consertar cada erro cometido, mas sempre existirão as consequências. Concentre-se no seu agora. Em cada agora.



*MaRi Rezk*