quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Dor

                                                                     Dor




 Que nota você daria para a sua dor numa escala de um a dez?
  Ela vem sem pedir licença. Toma posse das suas emoções. Cutuca seu cérebro, causando enxaquecas das mais insuportáveis. Aperta seu coração com as duas mãos, até trincar. Faz escorrer pelos olhos cada problema cuja solução não temos o poder de alcançar. Comprime os pulmões, como que envolvidos num abraço sufocante de um inimigo cruel. E coloca um peso, equivalente ao de um caminhão carregado de mágoa, nos seus ombros. Faz um buraco no peito. Desespera. Mexe com a sua cabeça. Tira o sono.
  Não é uma dor literal, como aquela resultante de um corte ou uma pancada. Ela vem de dentro pra fora. Não como enfermidade, ainda que, se não tratada, pode vir a causar uma. Pode ser resultado de um coração partido, de uma palavra dura, da insensibilidade de quem esperávamos o contrário, de uma perda, ou das diversas formas de decepção pelas quais poderíamos passar. Arrependimento. Injustiça. Ou pode ser a soma de um pouquinho de cada um desses fatores. Ou pode simplesmente não ter motivo algum para ser.
  Cada um sabe de sua dor. Apenas a própria pessoa tem ideia do quanto sofre, isso porque, como insisto em dizer, cada pessoa sente de forma diferente. Cada um sabe quanto peso consegue carregar sem desabar. E ninguém que tente entender, conseguirá. Porque somente nós mesmos sabemos o exato momento em que a alegria escorre entre os nossos dedos, o mesmo momento em que a dor nasce no peito, e cresce, e cresce.
  E cada um tem o direito de reagir a ela à sua própria maneira. Alguns preferem guardá-la num buraco escuro no fundo do peito, e compartilhá-la apenas consigo mesmo, em momentos de solidão. Há quem prefira descabelar-se aos quatro ventos, sem medo ou vergonha. Outros, a meu ver os mais infelizes, simplesmente não conseguem, ainda que com muito esforço, deixá-la guardada, e explodem, seja em lágrimas, desespero estampado nos gestos, ou em grosserias lançadas a quem quer que esteja por perto. E, por último, aqueles que fingem que ela não está lá, latejando.
  Particularmente, admiro quem luta contra a sua dor. Ainda que a sua força seja pequena, e ainda que a dor acabe por vencer, brigam com ela até onde podem suportar. Deixá-la dominar sua vida sem reagir é mais cômodo, com certeza. Mas também, é o caminho mais rápido ao fundo do poço. Há quem contribua construindo em volta de si o seu próprio poço, não deixando que qualquer pessoa o console, e deixando que seus problemas dominem seus pensamentos e suas conversas.
  Posso não ser especialista no assunto, e de fato não sou, mas já senti dor. E também já briguei com ela. E não costumo entrar numa briga para perder. Talvez a maior lição que eu tenha aprendido a respeito desse assunto é que brigadeiro nem sempre é a solução. Existem outras maneiras de vencê-la, e, ao mesmo tempo, sem engordar.
  Parar de falar no assunto é uma delas. Se ele está presente em cada conversa sua, quer dizer que está longe de parar de doer. É claro que uma boa conversa com um amigo achegado alivia, e muito. Mas será que todas as pessoas com quem você conversa estão cientes de cada aspecto do seu problema? No meu caso, quando me chateio muito com algo, eu reclamo por um tempo. Mas, passados alguns minutos (ou ás veze muitos minutos, dependendo da situação), eu evito pensar no assunto. Assisto a um filme, leio uma revista. Converso sobre coisas completamente diferentes. E, aqui entre nós, ajuda muito. Mas, quando falamos para a pessoa certa sobre o que nos aflige, podemos obter excelentes resultados. Já falou em oração sobre isso? Nesse caso, falar para nosso Deus sobre aquilo que nos entristece, a qualquer momento que sentimos a necessidade de fazê-lo, é com certeza o melhor remédio.
  Quando sentir que esta dor está afetando demais a sua vida, seus relacionamentos,suas ações e palavras, e quando sentir que já está pesada demais para carregar sozinho, não há vergonha nenhuma em procurar ajuda profissional. Vergonha maior é afastar as pessoas que gostam de você por receio de procurar um médico que realmente possa te ajudar.
  Dor é relativa. O que faz um sofrer, pode ser algo fácil de lidar para outro. Não nos cabe julgar. Permita que outros o apoiem. E jamais permita que alguém te puxe mais pra baixo. Seu coração está dentro de você, e não você dentro dele. Com muito esforço e força de vontade, seus sentimentos podem ser controlados somente por você. Algumas dores podem nos deixar de cama, nos derrubar num buraco sem fim, nos tornar pessoas diferentes, e muitas vezes solitárias, nos diminuir até nos tornar invisíveis. Mas só se deixarmos.



*MaRi Rezk*