quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Saudade de mim

                         Saudade de mim



 Sempre paro pra pensar na expressão "desde que me entendo por gente". Difícil lembrar da primeira vez que me percebi como uma pessoa. Só sei que faz muito tempo. E sei que sempre senti que eu era a mesma.  Dos 5 aos 30, parece ser a mesma coisa, a mesma linha, mesma voz de pensamento. Engraçado pensar que desde tão pequena eu já me sentia eu, tanto quanto me sinto agora.
  É claro que, com o passar dos anos, amadurecemos algumas ideias, evoluímos como pessoas, aprendemos algumas lições importantes que nos transformam, tudo isso sem deixarmos de ser nós mesmos.
  E geralmente é essa pessoa que mora na nossa cabeça que nos torna únicos, nos deixa confortáveis na nossa própria companhia, que define nossas preferências, nossas características mais profundas, nossos traços.
  Mas às vezes acontece um fenômeno um tanto quanto perturbador: nós nos perdemos do nosso "eu". Geralmente acontece no início da vida adulta, na fase em que somos praticamente atropelados pela vida, responsabilidades e obrigações. E quando nos perdemos dessa essência tão pura de nós, é como se as nossas cores se apagassem. Tudo fica meio cinza, meio bege.
  Do que eu gosto? Porque não faço mais isso? Quando foi que comecei a ser assim? Acontece tão sutilmente que só percebemos tarde demais. É doloroso e desconfortável. "Que saudade de mim!".
  Passamos tanto tempo sendo consumidos por nossa rotina cansativa, que dia a dia acabamos nos esquecendo de nós. Nos transformamos apenas numa lembrança do passado, uma fotografia desbotada. E, algum dia, alguma memória ressurge, e aí pensamos: "Eu costumava ser assim".
  Ainda não descobri a causa desse fenômeno. O porquê de nos distanciarmos de nós mesmos ainda é um mistério pra mim.
  Mas que delícia é nos reconectarmos ao nosso "eu"! Por mais que, em algum momento da nossa vida, deixamos de caber nessa pessoa que éramos, é muito bom - reconfortante, até - nos reencontrarmos com nossa essência mais antiga, mesmo que por pouco tempo. Como é bom rir com nós mesmos, nos entendermos como alguém com peculiaridades tão complexas, de um jeito que só faz sentido na nossa cabeça.
  Bom mesmo é quando nossos "eu's", nossas versões, conseguem encontrar um meio do caminho onde todo mundo consegue concordar em co-existir. Nos reconectar de forma mais permanente, sem desprezar nossa evolução. Quando nossa essência se torna uma só, cheia de caminhos já percorridos.
  O ser humano é uma bela criação, tão complexa e tão única. Como é bom nos enxergar assim, como alguém tão preenchido de particularidades, gostos, pensamentos e sentimentos, cada parte de nós sendo tão única. Um universo inteiro que chamamos de "Eu".

 *MaRi Rezk*


quinta-feira, 26 de março de 2020

Todo o amor

                                                     Todo o amor  




  Por que nos refreamos tanto de dar todo o amor que temos?
  Existe um grande consenso de que devemos direcionar nosso amor e afeto apenas àqueles que o retribuem à altura. Mas essa troca anda cada dia mais difícil, já que é tão difícil de ver amor sendo distribuído por aí.
  Também acredito que pode ser muito frustrante demonstrar amor (de qualquer tipo) para com quem não faz o mesmo por nós. É como se gastássemos um pouco de nós, e não conseguíssemos recuperar o que foi gasto. Mas já pensou se todos pensassem assim? Onde estaria o amor?
  Um hábito saudável que tento praticar (nem sempre com sucesso, atenção à palavra “tento”) é, logo após cada momento de Por-Que-Vou-Fazer-Isso-Se-Fulano-Não-Faria-O-Mesmo-Por-Mim, pensar no Fulano (a), que como todo mundo no mundo merece consideração e afeto, e porque o que eu quero demonstrar tem que ter a ver com o que ele (a) demonstra por mim.
  Por que mandar mensagem para aquela amiga se ela nunca me manda? Porque ela pode estar passando por uma fase difícil, pode estar numa correria tão grande que não tem tempo para bater papo, ou simplesmente ela tem tantos amigos que acaba falhando com alguns deles, o que não faz dela uma criminosa, nem mesmo uma má amiga.
  Mas... Ei! Se VOCÊ lembra dela, VOCÊ deve mostrar que lembrou, que se importa e que está com saudades! Pode ser que a gente descubra que ela estava pensando tão mal de nós quanto somos ensinados a pensar sobre quem não se manifesta por um tempo. Se essa troca de silêncios permanece por muito tempo, pode ser que esse carinho pelo qual a amizade é sustentada vai se acabando.
  E mais: Por que a generosidade sem esperar nada em troca é geralmente relacionada com coisas materiais? Por que não ser generosos da mesma forma com o nosso tempo, afeto e amor?
  Somos ensinados por aí que a coisa mais importante para nós deve ser nos sentir amados.
  “Só dê valor àqueles que te procuram.”
  “Se ame em primeiro lugar, se valorize.”
  “Não mendigue atenção de ninguém.”
  Uma coisa que aprendi, e me esforço pra entender sempre (porque realmente não é fácil, tamo junto) é que demonstrar que amamos alguém, que talvez não nos nos ame o mesmo tanto, não é mendigar. Desde quando devemos nos sentir satisfeitos com o que recebemos para então retribuir na mesma medida?
  Pode ser que tenha alguém, talvez aí por perto mesmo, que esteja precisando de você, só esperando alguém para resgatá-la de uma prisão (daquelas que nos colocamos e não conseguimos sair sozinhos), e ser salva (às vezes de si mesma).
  Mas pode ser (sendo realistas, sempre) que o seu gesto não seja retribuído, ou até mesmo seja ignorado, desprezado. E tudo bem. A sua semente de amor já saiu de suas mãos, e se vai brotar ou não, não está ao seu alcance decidir. Mas a alegria de dar SEMPRE será maior que a de receber. Sempre.
  Também, se necessário, não pense que uma correção deva vir antes. O amor sempre deve vir antes (fato quase cientificamente comprovado). Nada justifica uma palavra dura, num tom grosseiro, apenas para efeito de correção (lembrando: sempre colocando em prática o verbo “tentar”). E a bondade que demonstramos deve ser suficiente pro outro, não pra nós mesmos.
  Sendo realistas, não é sempre que nos sentimos capazes de ser tão altruístas. Nem mesmo penso dessa forma todo dia. Mas a minha versão mais sensata, quando aparece, pensa assim (e eu procuro ouví-la sempre). Está na hora de parar de sentir pena do nosso coração (até porque só nós mesmos podemos fazer com que ele fique bem, mas isso é assunto pra outra conversa), e mostrar pra ele que não é só pelo amor que recebemos que ele deve bater.


* Mari Rezk *



sexta-feira, 27 de abril de 2018

O Príncipe

                                                       O Príncipe




É só ter paciência. Não se desespere. É comprovado cientificamente que as melhores coisas da vida acontecem sem que você esteja preparado para elas (se não é, deveria). Já percebeu que, em geral, quanto menos dinheiro você tem, mais lindas são as "brusinhas" nas vitrines das lojas? Assim é com o coração. Quanto mais despretensiosamente você vive, mais coisas incríveis acontecem. Também é válido o argumento de que, se você não espera algo bom acontecer, ele tem um gostinho ainda melhor quando acontece. Mas, você deve concordar, parar a vida para esperar que algo incrível surja na sua frente acaba trazendo mais decepções do que felicidade.
O ponto é: pode ser que o amor da sua vida apareça naquele dia em que você está com o cabelo sujo, comendo igual uma doida e com a roupa respingada de comida. E nesse dia você resolve se divertir sem se importar se naquele lugar tem algum cara interessante te olhando e te achando ridícula. Afinal, é exatamente assim que você gosta de ser, e é dessa pessoa que o amor da sua vida deve gostar também. E de repente o seu olhar cruza com o dele, aí a vida e o tempo se encarregam do resto.
Você deve estar se perguntando: "Com que propriedade você está falando sobre esse assunto?" Bom, comigo foi exatamente assim. Depois de muito esperar que o meu príncipe aparecesse na minha frente num cavalo branco (aquela ideia boba e distorcida que os romances ensinaram pra gente), resolvi que eu não mais viveria numa preocupação constante. E logo que abandonei a expectativa insistente, tão logo ele apareceu, e quase que imediatamente eu soube que seria ele. 
E não há sentimento melhor do que saber que aquela pessoa também se encantou com você, mas enxergando você de verdade, e que não vai desistir só porque você é toda atrapalhada pra se expressar, ou porque você deixa comida cair de dentro da boca num restaurante. Porque é de verdade. E não há nada que pague um amor de verdade. Não há nada mais incrível do que sentir seu coração dia à dia sendo preenchido por um sentimento real.
Não se perca no caminho. Aquela mesma essência que você tinha no início, a sua essência, deve permanecer. Mas permita que ele acrescente. Sabe aquela mania que você tem (que eu tenho, né Mariana) de escolher sempre o mesmo lanche no mesmo restaurante, e fazer tudo igual sempre? Deixe ele te ajudar a sair da sua bolha um pouquinho, mas não se esqueça de trazer ele pra dentro da sua bolha também. Amor é troca, é parceria, e pode ser que seja bem diferente do que você imaginava que seria.
E logo você vai poder olhar pra trás e perceber o quão boba foi toda aquela espera, toda aquela expectativa por ideias que só existiam na sua cabeça. E quem diria que aquele cara de blusa vinho que você não estava tentando impressionar naquela festinha há uns poucos anos atrás se tornaria o amor da sua vida... 
Viva. Se divirta, dê risada, dance, sem se preocupar se alguém vai aparecer na sua vida. Lembre-se que, se o seu príncipe aparecer, que ele te ame por inteiro, desse jeito besta que você é. E que, não importa a hora em que ele chegar, aquela se tornará a hora certa. Como eu sei disso tudo? Talvez eu não saiba. Mas, assim... hoje é o meu casamento. 

*MaRi Rezk*


segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Voltar pra casa

                                                   

                                                  Voltar pra casa




    De vez em quando a vida fica um pouco difícil, né?! E viver em sociedade não é das partes mais fáceis de se viver. Volta e meia ouvimos um mimimi daqui, uma pressãozinha dalí, uma sutil crítica acolá. E em boa parte dessas situações nós sofremos injustamente. Na maioria das vezes as coisas acontecem sem que as pessoas tentem ver o nosso lado, sem que tentem se colocar no nosso lugar, e até mesmo evitam se dar o trabalho de ouvir nossas justificativas. Esse tipo de coisa geralmente nos incomoda além da conta, não é verdade?!. Pode até nos tirar o sono, nos fazer querer falar mais alto pra nos fazer entender, e pode até mesmo afetar o nosso bem estar. Ás vezes podemos até ter a sensação de que devemos nos justificar pra pessoas que nos acusam injustamente.
   Mas um dia, e espero que esse dia chegue pra todos, resolvemos nos libertar dessa prisão que é tentar provar nossa inocência o tempo todo. Precisamos então tomar medidas para não nos envolver mais em conflitos. Ao invés de brigar, chorar, e tentar nos justificar de todo jeito, nos obrigando a dar razão pra cada gosto e cada ação nossa, a melhor coisa que podemos fazer é deixar pra lá e voltar pra casa. Nada como a segurança de um lar, não é mesmo?
   Todos nós temos aquele cantinho especial em nossa casa, que representa toda a paz que a gente procura. Um cantinho que é só nosso, um refúgio do caos que a vida pode ser às vezes, uma fuga de quem não tem medo de ser desagradável. E lá, no nosso cantinho, a gente encontra a compreensão e aceitação que precisávamos. Lá podemos ser esquisitos sem incomodar ninguém, podemos rir do que quisermos, chorar sem perguntas. E como é feliz esse nosso tão particular mundinho maluco. Podemos ouvir aquela música que só a gente gosta, sem ninguém pra julgar, podemos ver aquele filme bobo e mal-feito, sem ninguém pra criticar. Podemos nutrir aquela fé na humanidade, sem ninguém pra nos mandar parar de ser trouxas.
  Como é bom podermos ser nós mesmos, longes de olhares de desaprovação ou narizes torcidos, que pouco a pouco matam a nossa alegria, sem precisar agradar a mais ninguém que não seja nós mesmos, sem precisar daquele desgaste tão desnecessário que é tentar provar pros outros as nossas boas intenções. Livres de culpa (ou aquela falsa culpa atribuem a nós). Livres.

*MaRi Rezk*

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Você não é trouxa

                                                                   

                                                    Você não é trouxa






  Tem uma coisa que eu preciso te contar. Você​ tem sido enganado há anos, e, agora que eu sei, não posso mais guardar esse segredo pra mim. Na verdade, assim que eu descobri, tenho pensado em qual seria o melhor jeito de te dizer isso. Espero que você esteja preparado pra isso, não é algo muito fácil de se ouvir. Chega de enrolar, vou falar de uma vez... Preparado? Lá vai: Você não é trouxa! Eu sei, parece ser um pouco difícil de acreditar, mas é a verdade. E tem uma lógica por trás dessa verdade que​ talvez faça você concordar comigo.
  Por muito tempo a gente ouviu de todo mundo que quem faz algo legal, ou ajuda, ou é simpático, ou dá uma segunda chance pra alguém que não dá valor, que ignora, que engana ou trai, é trouxa. Eu já ouvi isso centenas de vezes, e já falei isso outras milhares. Mas, pensa bem. Porque fazer algo bom pra alguém, muitas vezes pra alguém que é importante pra você, faz de você uma pessoa trouxa? Porque você é que tem que se sentir mal por ter feito alguma coisa legal, se foi a outra pessoa que não deu valor ou rejeitou?
  A gente aprende por aí que esperto é quem faz as coisas para a própria vantagem, quem pensa primeiro em si mesmo pra depois pensar nos outros. Mas será que é assim mesmo que a gente tem que pensar? É claro que quando fazemos o bem pra alguém que não dá valor, sentimos uma revolta dentro de nós, como se o bem que fazemos nunca fosse reconhecido. Eu já senti essa revolta muitas e muitas vezes. É normal se sentir triste com isso. Eu diria até que é quase impossível não se sentir mal por sermos enganados ou ignorados, e seria demais pedir pra você não se chatear com situações assim. Mas o que você tem que entender é o seguinte: você não precisa se sentir mal por ter feito o bem. Você não é trouxa.
  Quem precisa se sentir mal com os seus atos é quem ignora um gesto legal de alguém, quem não responde um sorriso com outro sorriso de volta (de propósito), quem volta a tratar mal quem lhe deu uma segunda chance, quem engana ou trai quem só quer seu bem.
  Lembre-se que uma das coisas mais importantes que a gente precisa fazer é amar ao próximo. E não é só o próximo que devolve a sua gentileza, viu?! Você não deve se sentir mal por ter feito algo bom pra quem quer que seja, mas deve se sentir feliz por estar fazendo o certo.
  Não estou dizendo que você é obrigado a continuar agradando quem te rejeita. Talvez persistir nisso adoeça seu coração, e faça com que você acabe adquirindo uma percepção errada do que é o amor e a amizade. Amizade e amor, quando não correspondidos, deixam de ser relacionamentos saudáveis, para ambos os lados. Mas não deixe que esse tipo de coisa faça você se arrepender por ter feito algo de bom, ou ter sido simpático ou prestativo. Lembre-se que o máximo que você pode fazer é a sua própria parte. Sinta-se alegre por fazer o seu melhor. Criar inimizades por aí simplesmente por não ter seu gesto reconhecido ou valorizado, pode tirar todo o brilho da sua boa intenção. Faça o bem sem olhar a quem, já dizia o ditado. Pague sempre com o bem. Se a pessoa não aceitar, então a recompensa será toda sua.


*MaRi Rezk*


domingo, 28 de maio de 2017

Você é dos que complicam ou dos que facilitam?

               

                   Você é dos que complicam ou dos que facilitam?




  A vida às vezes parece ser tão complicada, né?! Estudar, trabalhar, pagar boletos, namorar (e tem que ser bonito!), casar (e tem que fazer um festão!), ter filhos (que você não poderá decidir como criá-los), contratar serviços, reclamar dos serviços contratados, ser simpático, ler muitos livros, redes sociais, ter boa postura, pensar no que comer (3 vezes por dia!), colocar as séries em dia, ter uma carreira de sucesso, carro, ter um extenso (muito extenso mesmo) vocabulário, ter amigos, conseguir dar atenção especial a cada amigo, tomar cuidado com tudo o que falar pra não ofender ninguém, passear, cozinhar, cuidar da casa, regras de etiqueta, ajudar a quem precisa, ser ajudado, ter conhecimento (pelo menos um pouco) de cada área da vida, saber o que está acontecendo no Brasil e no mundo, viajar, comprar, vender, emprestar, saber como funciona tudo no mundo.
  Parece ser bem desgastante ser adulto hoje em dia, não parece?! E é. A cada momento de cada dia algo é cobrado de nós. A pressão de ter/saber tudo que (supostamente) deveríamos é muito grande. E se falharmos em algum aspecto dos citados acima, temos uma enorme dívida com a sociedade, que precisa ser paga o quanto antes.
  Quantas pessoas que você conhece que sofrem (seja no grau que for) de ansiedade? Muitas​, né?!
  Realmente, é muito difícil viver. Por mais que você sinta que vai explodir em algum momento, não é permitido  surtar. E é preciso muita coragem e determinação pra não permitir que abusem do nosso psicológico com tantas cobranças. Eu admiro, respeito e invejo você que tem essa força.
  E mesmo a vida sendo assim tão complicada, tem gente que gosta de complicar ainda mais! A vida poderia ser muito mais simples, mais suave, mais tranquila, se as pessoas quisessem. Digo isso porque a receita é até bem simples. Já parou pra ver as coisas do ponto de vista do outro? Já tentou se colocar no lugar das pessoas antes de julgar suas ações? Só isso já seria meio caminho andado pra deixar de pertencer ao time das pessoas que complicam a vida. Mas tem mais...
  Não estou dizendo que você deva pensar como eu penso. Até porque a idéia do tema é justamente essa! Cada pessoa é um ser individual e maravilhoso, do jeito que é. E a gente precisa entender e aceitar que os outros são diferentes da gente, e que tudo bem! Não que devamos concordar em tudo, até porque isso tiraria exatamente o que temos de especial, a nossa essência. Tá muito complicado de entender? Então vou tentar simplificar.
  Pare pra escutar o que as pessoas tem a dizer. Converse antes de brigar. Ouça antes de falar (ta na Bíblia, inclusive). Seja paciente, tente compreender as razões do outro. Seja bondoso ao falar com os outros, seja qual for o nível de intimidade, quando for dar conselhos, brincar, ou até brigar com alguém. Entenda o outro. Observe antes concluir. Ouça os dois lados da história antes de escolher um deles (muito importante). Não julgue sem conhecer todos os fatos necessários. Não toque na ferida de alguém antes de pensar como você se sentiria se alguém tocasse na sua. Não exija dos outros o que você considera melhor para si mesmo. Não deixe os seus defeitos dominarem quem você é. Lute contra seu lado ruim. Entenda que amar o outro não é ser igual o outro, ou ser amigo, ou concordar com o outro. Amar o outro é respeitar, enxergar mais as qualidades do que os defeitos do outro, e desejar sempre o bem (mas de coração, hein?!), mesmo que de longe seja mais fácil fazê-lo. É não desejar o mal de alguém só porque ele desejou o seu mal. Perdoe. Mas tente perdoar de dentro pra fora. Seja a melhor versão de si mesmo, sempre disposto a se aprimorar. E nunca (jamais!) deixe de lado o que você sabe ou acha que é o certo ou errado só para agradar alguém. Não renuncie as suas convicções só para agradar quem está em volta. Apenas tente entender que as pessoas são tão imperfeitas quanto você, e que talvez elas não estejam enxergando seus próprios erros, assim como nós muitas vezes não enxergamos os nossos, e se você não quiser ajudá-las amorosamente a entender isso, ao menos espere sempre o bem. Deseje sempre a paz.
  Não estou falando como uma grande professora da vida. Muito pelo contrário, tenho muito mais (muito, muito mesmo) a aprender do que a ensinar. E pode ser que eu tenha falado um monte de bobagem até agora. Mas as palavras acima são o resultado do que eu vivi e aprendi. Não que eu sequer consiga fazer um terço do que eu disse. Infelizmente a nossa tendência é errar vez após vez. Mas se a gente pelo menos se esforçar pra ser melhor, e se o nosso melhor se sobrepor ao nosso pior, nós já poderemos pedir a carteirinha do Clube Internacional das Pessoas que Facilitam a Vida. Entender que as coisas não são só do jeito que a gente acha que é facilita até a nossa própria vida. Compliquei mais ainda? Deixa eu tentar simplificar mais. Ame primeiro. Só isso.


*MaRi Rezk*



quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Sobre ser adulto...

                                                    Sobre ser adulto...




  Fui uma grande admiradora dos adultos, enquanto ainda não podia ser uma. Sempre foi o meu objetivo me tornar, o quanto antes, uma dessas pessoas grandes que pareciam ser tão fortes, tão sábias, tão cheias de certezas e de grandes feitos em seus históricos. Me admirava o grau de confiança em que davam as respostas das perguntas que, para mim, pareciam ser tão complexas. Me impressionava a objetividade (não que eu soubesse na época o que essa palavra queria dizer, mas seu significado passeava pelas minhas ideias de vez em quando...rs) com que certas decisões eram tomadas, com uma aparente certeza de sucesso no final das contas. Como, além de altos e fortes, esses tais adultos podiam saber de tudo?
  Mal sabia eu que os adultos são apenas meros rascunhos das maravilhosas crianças que haviam sido. Não eram, nem de perto, as incríveis criaturas que eu tanto pintava na minha cabeça. Mas isso é algo que descobrimos depois que chegamos lá. E, quando finalmente alcançamos a antes tão esperada idade de amadurecimento (apesar de que existem aqueles que nunca chegam lá), entendemos que a ilusão das crianças nesse respeito é muito importante para seu senso de confiança, e mesmo pra sua própria segurança. As crianças precisam acreditar que seus adultos responsáveis sabem de tudo, e que conhecem as consequências de cada ação perigosa que os mini seres humanos tanto amam fazer (pra testar o coração de seus respectivos pais, avós, tios ou "Maris"). 
  Mas a cruel verdade, que só nos é revelada quando já iniciamos na vida adulta é: bom mesmo era ser criança. E, adivinha só, você nunca mais poderá ser uma. E não estou falando sobre ter um espírito jovem, ou ser uma eterna criança no sentido de sempre se divertir com tudo e levar a vida leve. Você pode ser tão bobo e brincalhão quanto quiser. Mas, amigo, criança você não vai ser nunca mais. O que eu quero dizer é: você nunca vai recuperar a inocência que tinha quando não sabia de muita coisa da vida. Não dá pra "des-saber" das coisas. E, portanto, não dá pra voltar a ser criança. E essa é só a primeira de muitas surpresas tristes que temos quando finalmente chegamos lá.
  Talvez não haja idade mais emocionalmente perturbada do que a idade de "jovem adulto". É preciso estar preparado para conseguir manter-se são diante de tantas mudanças. Jovem adulto é aquele adulto que ainda só sabe ser adolescente. Nessa fase da vida, você recebe uma mala grande cheia de responsabilidades, com um bilhete preso no zíper que diz: "Se vira". Basicamente é isso. Você sabe muito pouco da vida, mas tem que aprender a lidar com ela. E lhe é cobrado que defina bem cada aspecto importante da sua vida desde já. E talvez a parte mais difícil é que, como uma criança que é comparada com o amiguinho que "come todo o papá", a pressão de ser como o coleguinha da mesma idade que faz as coisas melhor do que vc ainda é muito constante, em cada área importante da vida (não na parte de comer tudo o que está no prato, isso você vai conseguir bem até demais. Afinal, ansiedade é uma realidade agora). Se seu amigo consegue trabalhar, estudar, formar uma família e fazer malabarismo com 7 bolinhas, com uma mão só, você também consegue! Mas não se desespere, querido jovem adulto. As coisas não vão ficar mais fáceis (o que seria o motivo perfeito para se desesperar), mas com o tempo você vai conseguir lidar melhor com a pressão e a ansiedade (mesmo que seja com ajuda profissional), e, com o passar dos anos da vida de adulto (pra mim, cada ano como adulto equivale a um mês de vida de uma criança, porque a infância parece ter durado uma vida inteira. Triste realidade) você acaba se acostumando com a correria.
  E então, você descobre, em si mesmo, a verdade sobre ser adulto.
  Quando a gente cresce, descobre que adulto é quem mais precisa aprender e muitas vezes isso acontece na prática, na hora do aperto mesmo, sabe?! As incertezas estarão sempre lá, a vida toda. E finalmente entendemos que adulto não sabe de tudo. Que adulto chora, até mais do que criança, mas, por ter sido ensinado desde pequeno que adulto não chora, tenta disfarçar ao máximo. Adulto disfarça até risada (principalmente se for de algo bem besta. Afinal, coisas bestas não perdem a graça nunca), medo de escuro, medo de errar. E como erram os adultos! E julgam, criticam, complicam. Pegamos algo que costumava ser bem simples de entender e distinguir, e adicionamos milhares de variáveis (tá vendo como eu compliquei essa frase?). Porque adulto tem o péssimo hábito de achar que só porque é adulto, as coisas não podem ser tão simples.
  E você não vai acreditar no que eu vou te contar. Tá preparado? Lá vai: não precisa ser tão difícil. Que tal descomplicar? Que tal pegar esse monte de peso que a vida tem, transformar em pluma e soprar ao vento? É claro que é mais fácil falar do que fazer, mas não custa tentar. Não custa focar na beleza e delicadeza das coisas, nas poucas mas sinceras palavras, nos simples mas belos gestos.
  Porque a verdade é que adulto tenta ver poesia em tudo. Criança simplesmente o é. E talvez seja isso que nos esteja faltando: ser poesia.



*MaRi Rezk*