quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Sobre ser adulto...

                                                    Sobre ser adulto...




  Fui uma grande admiradora dos adultos, enquanto ainda não podia ser uma. Sempre foi o meu objetivo me tornar, o quanto antes, uma dessas pessoas grandes que pareciam ser tão fortes, tão sábias, tão cheias de certezas e de grandes feitos em seus históricos. Me admirava o grau de confiança em que davam as respostas das perguntas que, para mim, pareciam ser tão complexas. Me impressionava a objetividade (não que eu soubesse na época o que essa palavra queria dizer, mas seu significado passeava pelas minhas ideias de vez em quando...rs) com que certas decisões eram tomadas, com uma aparente certeza de sucesso no final das contas. Como, além de altos e fortes, esses tais adultos podiam saber de tudo?
  Mal sabia eu que os adultos são apenas meros rascunhos das maravilhosas crianças que haviam sido. Não eram, nem de perto, as incríveis criaturas que eu tanto pintava na minha cabeça. Mas isso é algo que descobrimos depois que chegamos lá. E, quando finalmente alcançamos a antes tão esperada idade de amadurecimento (apesar de que existem aqueles que nunca chegam lá), entendemos que a ilusão das crianças nesse respeito é muito importante para seu senso de confiança, e mesmo pra sua própria segurança. As crianças precisam acreditar que seus adultos responsáveis sabem de tudo, e que conhecem as consequências de cada ação perigosa que os mini seres humanos tanto amam fazer (pra testar o coração de seus respectivos pais, avós, tios ou "Maris"). 
  Mas a cruel verdade, que só nos é revelada quando já iniciamos na vida adulta é: bom mesmo era ser criança. E, adivinha só, você nunca mais poderá ser uma. E não estou falando sobre ter um espírito jovem, ou ser uma eterna criança no sentido de sempre se divertir com tudo e levar a vida leve. Você pode ser tão bobo e brincalhão quanto quiser. Mas, amigo, criança você não vai ser nunca mais. O que eu quero dizer é: você nunca vai recuperar a inocência que tinha quando não sabia de muita coisa da vida. Não dá pra "des-saber" das coisas. E, portanto, não dá pra voltar a ser criança. E essa é só a primeira de muitas surpresas tristes que temos quando finalmente chegamos lá.
  Talvez não haja idade mais emocionalmente perturbada do que a idade de "jovem adulto". É preciso estar preparado para conseguir manter-se são diante de tantas mudanças. Jovem adulto é aquele adulto que ainda só sabe ser adolescente. Nessa fase da vida, você recebe uma mala grande cheia de responsabilidades, com um bilhete preso no zíper que diz: "Se vira". Basicamente é isso. Você sabe muito pouco da vida, mas tem que aprender a lidar com ela. E lhe é cobrado que defina bem cada aspecto importante da sua vida desde já. E talvez a parte mais difícil é que, como uma criança que é comparada com o amiguinho que "come todo o papá", a pressão de ser como o coleguinha da mesma idade que faz as coisas melhor do que vc ainda é muito constante, em cada área importante da vida (não na parte de comer tudo o que está no prato, isso você vai conseguir bem até demais. Afinal, ansiedade é uma realidade agora). Se seu amigo consegue trabalhar, estudar, formar uma família e fazer malabarismo com 7 bolinhas, com uma mão só, você também consegue! Mas não se desespere, querido jovem adulto. As coisas não vão ficar mais fáceis (o que seria o motivo perfeito para se desesperar), mas com o tempo você vai conseguir lidar melhor com a pressão e a ansiedade (mesmo que seja com ajuda profissional), e, com o passar dos anos da vida de adulto (pra mim, cada ano como adulto equivale a um mês de vida de uma criança, porque a infância parece ter durado uma vida inteira. Triste realidade) você acaba se acostumando com a correria.
  E então, você descobre, em si mesmo, a verdade sobre ser adulto.
  Quando a gente cresce, descobre que adulto é quem mais precisa aprender e muitas vezes isso acontece na prática, na hora do aperto mesmo, sabe?! As incertezas estarão sempre lá, a vida toda. E finalmente entendemos que adulto não sabe de tudo. Que adulto chora, até mais do que criança, mas, por ter sido ensinado desde pequeno que adulto não chora, tenta disfarçar ao máximo. Adulto disfarça até risada (principalmente se for de algo bem besta. Afinal, coisas bestas não perdem a graça nunca), medo de escuro, medo de errar. E como erram os adultos! E julgam, criticam, complicam. Pegamos algo que costumava ser bem simples de entender e distinguir, e adicionamos milhares de variáveis (tá vendo como eu compliquei essa frase?). Porque adulto tem o péssimo hábito de achar que só porque é adulto, as coisas não podem ser tão simples.
  E você não vai acreditar no que eu vou te contar. Tá preparado? Lá vai: não precisa ser tão difícil. Que tal descomplicar? Que tal pegar esse monte de peso que a vida tem, transformar em pluma e soprar ao vento? É claro que é mais fácil falar do que fazer, mas não custa tentar. Não custa focar na beleza e delicadeza das coisas, nas poucas mas sinceras palavras, nos simples mas belos gestos.
  Porque a verdade é que adulto tenta ver poesia em tudo. Criança simplesmente o é. E talvez seja isso que nos esteja faltando: ser poesia.



*MaRi Rezk*


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

De: Mari de 23 | Para: Mari de 13


                                     De: Mari de 23 | Para: Mari de 13






   Fui convidada pela minha amiga Carú a realizar a divertida tarefa de escrever uma carta para a “eu” de 10 anos atrás. Me apaixonei pela ideia porque, além de ser uma proposta criativa, também é uma boa oportunidade de dar significativos conselhos para a pessoa que mais precisou deles  que eu já conheci – a Mari de 13 anos. E quem sabe um dia a Mari de 33 não tenha muito que me ensinar?


   Querida fat Mari de 13 anos,

  Parabéns, você sobreviveu à adolescência (apesar de alguns acharem que você ainda está nela)! Devo admitir que não foi fácil, principalmente depois de tantas transformações, reviravoltas e surpresas da vida. Mas hoje posso dizer com orgulho que, como adulta, você é, imagine só, feliz! E entenda que os seus erros, acertos, vergonhas e decepções serão de muita ajuda para que você aprenda lições importantes. Tente perceber cada uma dessas lições contidas em cada lágrima, e em cada sorriso. Elas serão o seu guia para que você aproveite da melhor forma possível essa fase tão desastrosamente maravilhosa que é a adolescência. Ainda assim, gostaria de dar uns conselhos bem valiosos que podem te ajudar um pouquinho nessa terrível bela transição. Vai por mim.
  Tenta dar uma maneirada nessas respostinhas que você ama dar. Você se acha toda espertona agora, e vai se sentir assim por alguns anos, mas, acredite, você vai se envergonhar de 90% desses momentos quando for adulta. E um dia você vai perceber que foi desnecessariamente agressiva em alguns diálogos com pessoas inocentes (“Seje menas”). E você está longe de ser a pessoa mais inteligente do mundo. Tente se lembrar disso.
  Tenta se preocupar menos com os problemas da vida, e se divirta mais! Só se tem 13 anos uma vez na vida (e 14 também, e 15 também...), então aproveite para curtir bem essa época.
  Já vai tentando superar o seu medo de atravessar a rua, porque isso talvez te ajude a superar o seu futuro medo de dirigir.
  Desde já peça pra sua mãe te ensinar a cozinhar. Você vai demorar muito pra começar a se aventurar nesse ramo, então facilite sua vida adulta desde agora.
  Você só vai conseguir ser magra lá pelos 15 anos (mas ninguém vai te dizer isso, então tente perceber por conta própria para não sofrer mais com o bullying familiar), e será uma fase passageira. E nem todo ano você vai ter uma virose para equilibrar seu peso, então... faça algo a respeito.
  Entre os 14 e 15 anos você achar que fica bem usando duas Maria-chiquinhas no cabelo. Evite isso.
  Tenta ter um controle com a sua coleção de esmaltes. Você não precisa de tantos, e muitos deles vão estragar sem terem sido usados até o fim. Esse vício vai aumentar com o tempo, e você vai passar um bom tempo sem entrar em farmácias ou perfumarias para se manter “sóbria”
 (Mas estamos bem agora).
  Não assista tantos filmes de romance nos próximos anos, eles não vão te fazer muito bem. Substitua por filmes de heróis, você vai gostar muito deles no futuro. E são bem mais saudáveis.
  Você nunca vai colocar os pés numa academia, vamos ser sinceras. Mas tenta começar a fazer algum exercício agora (por favor, me ajuda). Faz de tudo pra perder essa barriga o quanto antes! Porque vai chegar uma época da sua vida em que ela simplesmente vai se recusar a ir embora.
  Quando você começar a ganhar seu próprio dinheirinho, evite ao máximo entrar em docerias, chocolaterias e afins. Sabemos que você não é forte o bastante pra resistir, então passe o mais longe possível da tentação. E, se você guardar todo o dinheiro que gastaria em doces, talvez seja uma jovem milionária aos 23. Quem sabe...
  Com relação a meninos, continue fazendo o que você está fazendo. Um dia vai valer muito a pena, e você vai ser muito feliz.
  Evite ao máximo usar as palavras “sempre” e “nunca”. A vida vai sempre te surpreender, para o bem e para o mal.
  Esqueça tudo o que você acha que sabe sobre beleza. Você não sabe de nada.
  Tenta fazer com que a sua mãe coloque aparelho em você logo. A época de ser feia é agora. E corre pra uma dermatologista. Corre!!
  Aproveite a sua família ao máximo. Um dia, alguns membros dela te farão muita falta. Amigos vêm e vão, e poucos ficarão.
  Um dia você vai descobrir que ama escrever (você já ama, na verdade. Só não sabe ainda). Investe tudo nisso!
  Evite ao máximo todo e qualquer conflito (surgirão alguns pelo caminho).Tenta se dar bem com todo mundo. Esquece tudo o que você acha que sabe sobre pessoas. Julgue menos. Sorria mais (pra todo mundo).
  Já vai pensando o quer da vida agora. Seja mais ativa, se arrisque mais!
  Num belo dia você vai descobrir que a melhor coisa da vida é ser eclética. Esqueça a ideia de que só o que você gosta é legal, e vai perceber que é muito mais interessante estar disposto a experimentar o novo.
  Não tenta enrolar o cabelo até que você faça luzes. Só assim vai funcionar.
  E seja tão feliz quanto conseguir. Foca em tudo de bom que acontecer com você, e a vida vai parecer bem mais suave. Viva cada fase no seu tempo, sem stress. Não se esqueça de estar sempre disposta a aprender (como sou até hoje). Não permita que a sua essência se perca no meio do caminho, dá muito trabalho procurar depois. Você vai vencer muitos medos, e muitas boas escolhas estão nesse caminho em que você vai percorrer. Divirta-se tanto quanto puder! Daqui onde estou posso olhar para trás, pra você, e, entre uma decepção e outra, posso dizer com orgulho: nós conseguimos! Só não conseguimos ser magras por muito tempo. Mas isso é só um detalhe.
 
 
 
*MaRi Rezk*