quinta-feira, 26 de março de 2020

Todo o amor

                                                     Todo o amor  




  Por que nos refreamos tanto de dar todo o amor que temos?
  Existe um grande consenso de que devemos direcionar nosso amor e afeto apenas àqueles que o retribuem à altura. Mas essa troca anda cada dia mais difícil, já que é tão difícil de ver amor sendo distribuído por aí.
  Também acredito que pode ser muito frustrante demonstrar amor (de qualquer tipo) para com quem não faz o mesmo por nós. É como se gastássemos um pouco de nós, e não conseguíssemos recuperar o que foi gasto. Mas já pensou se todos pensassem assim? Onde estaria o amor?
  Um hábito saudável que tento praticar (nem sempre com sucesso, atenção à palavra “tento”) é, logo após cada momento de Por-Que-Vou-Fazer-Isso-Se-Fulano-Não-Faria-O-Mesmo-Por-Mim, pensar no Fulano (a), que como todo mundo no mundo merece consideração e afeto, e porque o que eu quero demonstrar tem que ter a ver com o que ele (a) demonstra por mim.
  Por que mandar mensagem para aquela amiga se ela nunca me manda? Porque ela pode estar passando por uma fase difícil, pode estar numa correria tão grande que não tem tempo para bater papo, ou simplesmente ela tem tantos amigos que acaba falhando com alguns deles, o que não faz dela uma criminosa, nem mesmo uma má amiga.
  Mas... Ei! Se VOCÊ lembra dela, VOCÊ deve mostrar que lembrou, que se importa e que está com saudades! Pode ser que a gente descubra que ela estava pensando tão mal de nós quanto somos ensinados a pensar sobre quem não se manifesta por um tempo. Se essa troca de silêncios permanece por muito tempo, pode ser que esse carinho pelo qual a amizade é sustentada vai se acabando.
  E mais: Por que a generosidade sem esperar nada em troca é geralmente relacionada com coisas materiais? Por que não ser generosos da mesma forma com o nosso tempo, afeto e amor?
  Somos ensinados por aí que a coisa mais importante para nós deve ser nos sentir amados.
  “Só dê valor àqueles que te procuram.”
  “Se ame em primeiro lugar, se valorize.”
  “Não mendigue atenção de ninguém.”
  Uma coisa que aprendi, e me esforço pra entender sempre (porque realmente não é fácil, tamo junto) é que demonstrar que amamos alguém, que talvez não nos nos ame o mesmo tanto, não é mendigar. Desde quando devemos nos sentir satisfeitos com o que recebemos para então retribuir na mesma medida?
  Pode ser que tenha alguém, talvez aí por perto mesmo, que esteja precisando de você, só esperando alguém para resgatá-la de uma prisão (daquelas que nos colocamos e não conseguimos sair sozinhos), e ser salva (às vezes de si mesma).
  Mas pode ser (sendo realistas, sempre) que o seu gesto não seja retribuído, ou até mesmo seja ignorado, desprezado. E tudo bem. A sua semente de amor já saiu de suas mãos, e se vai brotar ou não, não está ao seu alcance decidir. Mas a alegria de dar SEMPRE será maior que a de receber. Sempre.
  Também, se necessário, não pense que uma correção deva vir antes. O amor sempre deve vir antes (fato quase cientificamente comprovado). Nada justifica uma palavra dura, num tom grosseiro, apenas para efeito de correção (lembrando: sempre colocando em prática o verbo “tentar”). E a bondade que demonstramos deve ser suficiente pro outro, não pra nós mesmos.
  Sendo realistas, não é sempre que nos sentimos capazes de ser tão altruístas. Nem mesmo penso dessa forma todo dia. Mas a minha versão mais sensata, quando aparece, pensa assim (e eu procuro ouví-la sempre). Está na hora de parar de sentir pena do nosso coração (até porque só nós mesmos podemos fazer com que ele fique bem, mas isso é assunto pra outra conversa), e mostrar pra ele que não é só pelo amor que recebemos que ele deve bater.


* Mari Rezk *



Um comentário:

  1. Acho que o maior obstáculo para demonstrações de afetos e carinho é o orgulho. Parece humilhante aos olhos de alguns dar o primeiro passo para demonstrar amor. Quando discuto com minha esposa, parece que o primeiro que deixar de lado o orgulho e tratar o outro com carinho vai ser o errado, o culpado. As vezes pode até ser, mas aquele momento ruim não vai mudar toda a história que já vivemos. Então porque aquele pequeno momento me impede de dizer "eu te amo" por horas? Se é difícil assim abrir mão do ego por alguém que eu amo tanto, o quão difícil vai ser para com um amigo, um conhecido ou um estranho? Tenho lutado contra essa tendência. Tenho tentando mostrar para todas as pessoas que me importo, me preocupo, amo elas. Sendo um homem as vezes é até constrangedor dizer que amo meus amigos. Mas eu falo, amo eles sim, então eles têm que saber. Amanhã ou ainda hoje pode ser meu último dia na terra por um bom tempo. E que tipo de lembrança deixaria se isso realmente acontecesse? E mesmo que eu viva mais um bilhão de anos, cada sorriso sincero que arranco dos rostos de quem me cerca me lembra que na verdade quem se beneficia disso sou EU. Mas como você disse, as vezes a gente não pensa assim e toda vez que eu perco a oportunidade de ser bom para alguém, na verdade estou desperdiçando meu amor. Quanto mais guardo para mim esse amor, menos amadas as pessoas se sentem, e quanto menos amadas elas se sentem, menos elas demonstram. No final, talvez estejamos presos num ciclo de orgulho e vergonha e por isso seja tão difícil mostrar carinho e amor.

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