quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Sobre escrever...

                                                       Sobre escrever...




  É traduzir o que a sua cabeça pensa do que o seu coração sente. É tirar de dentro do nosso coração tudo o que não cabe mais nele. É tentar dar nome a uma lágrima, a um sorriso, a um friozinho na barriga. É mostrar que nenhuma dor é exclusiva, nenhuma mania é única, e que certas palavras podem mudar o dia de alguém e fazer com que muitas outras palavras nasçam nas cabecinhas de quem leu as suas. É ensinar com a sua história, boa ou ruim.
  Não é bem um vício. Está mais para necessidade, mas de um tipo diferente da de comer e dormir, por exemplo. É uma necessidade de se expressar de forma a ser plenamente compreendido. E principalmente de “desengasgar”. Tirar aquele “nózinho” na garganta que tanto incomoda. E às vezes o nózinho  surge quando a gente menos espera. Basta alguém perguntar “Você já pensou sobre...?”, e imediatamente você fabrica um texto na sua cabeça sobre o assunto, já busca sinônimos e regras de concordância na memória, corre os olhos ao redor procurando uma caneta e um pedacinho de papel qualquer, só para não perder a ideia que acabou de brotar. E aí, depois desse súbito momento de adrenalina, você sente a necessidade de dividir com alguém aquela ideia escrita, nem que seja para uma pessoa só (todo aspirante a escritor tem “a pessoa” [eu tenho várias]).
  A maioria de nós somos amadores, simples curiosos. Geralmente o amor à escrita é resultado de anos de amor à leitura, mas também surge da necessidade de quem não é muito bom com palavras faladas (como eu). E aí, de redação em redação a gente se encontra, e aquelas ideias vagas que não sabiam se fazer entender começam a ganhar significado.
  Sempre que algo à nossa volta acontece, e nos balança, nada melhor para entender como realmente estamos nos sentindo a respeito disso quanto colocar no  papel. Isso nos ajuda a enxergar mais claramente a situação, e mais, nos enxergar por dentro.
  E quando não conseguimos passar aquela dorzinha na boca do estômago pro papel, às vezes por falta de tempo, ela cresce. E cresce tanto que nos dá um leve desesperozinho, principalmente de perder aquelas ideias. E nada funciona enquanto as palavras não saem da gente. Nenhuma conversa flui como deveria, o olhar fica perdido. E, quando finalmente elas saem, dão um trabalhão. Escrevemos, rabiscamos, trocamos de lugar, reescrevemos. E nunca está perfeito. Mas quando finalmente conseguimos colocar nossos pensamentos da forma mais aceitável possível, depois de pedirmos a opinião da “pessoa” (da vez), chega o maior motivo de animação daquele dia – a hora de compartilhar. É uma ansiedade sem fim, uma felicidade tão boba, mas tão sincera. E uma eterna insegurança paira sobre os silenciosos primeiros minutos. Mas quando as primeiras respostas chegam, não há tragédia que tire o sorriso do rosto.
  Aqueles sentimentos que pensávamos ser só nossos começam a ganhar nome e forma, e descobrimos que outros compartilham das mesmas sensações. E melhor do que nós mesmos conseguirmos compreender esses sentimentos, às vezes tão confusos, é saber que fomos capazes de traduzi-los a outros, e que essas pessoas se encontraram nas nossas palavras. Esse sentimento, de tão grande e tão precioso, ainda não consegui traduzir.


*MaRi Rezk*


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